Nunca um governo tomou tanto
 de quem não tem nada. Por Wadih Damous

Atualizado em 11 de outubro de 2017 às 16:58

A frase-título desse artigo foi proferida por uma faxineira desempregada brasileira ouvida em uma reportagem do jornal francês Libération sobre os estragos sociais causados pelo ultraneoliberalismo pós-golpe no Brasil, citada pela revista CartaCapital desta semana.

Ela, a exemplo de dezenas de milhões de mulheres e homens espalhados Brasil afora, diz sentir saudades de Lula. A desgraça dos barões da mídia, do mercado financeiro e das grandes corporações capitalistas que sustentam Temer é que o povo tem discernimento. O sofrimento atroz que lhe é imposto hoje remete a um passado recente, no qual ele tinha dignidade, emprego e aumento real do salário mínimo todos os anos.

É por isso que Lula acende a esperança no coração justamente dos que mais precisam do Estado, embora o ex-presidente tenha larga aceitação também na banda progressista dos estratos médios da sociedade. Em que pese se constitua num fenômeno político intrincado e complexo, a teimosa liderança de Lula em todas as pesquisas, a despeito do massacre midiático diário que sofre, tem a ver também com o dia a dia do povo, com sua realidade cotidiana.

Basta uma caminhada pelos centros urbanos do país para se obter um retrato em preto e branco da deterioração das condições de vida dos integrantes da parte baixa da pirâmide social. O aumento da pobreza e da miséria salta aos olhos ante o número de moradores de rua, de pedintes, de vendedores ambulantes e de pessoas que simplesmente perambulam pelas ruas tomadas pelo desalento.

E, enquanto o regime democrático não for reconquistado e um referendo revocatório convocado para anular de fio a pavio a obra antipopular e antinacional dos golpistas, a tendência desse cenário é piorar. Sim porque a partir de 1º de novembro entra em vigor a reforma trabalhista, que liquidou mais de 100 artigos da CLT e provocará mais empobrecimento.

A volta do país ao mapa da fome é tida como certa, depois de ter saído em 2014. Os pobres estão sendo arrancados a fórceps do orçamento. A aprovação da PEC 55, que congelou por 20 anos os gastos sociais, a reforma trabalhista, a forte ameaça da reforma da previdência, os cortes no Bolsa Família e no Mais Médicos, o fim do programa Farmácia Popular, da política de valorização do salário mínimo, a venda a preço de banana de estatais estratégicas, a redução do investimento público a patamares alarmantes e a  destruição pela Lava Jato do setor de petróleo e gás traçam um horizonte sombrio marcada pela penalização dos menos favorecidos.

Os 13 milhões de desempregados e os índices de violência na estratosfera completam o quadro tenebroso. Levantamentos recentes indicam que uma quantidade considerável da população sairia do país caso tivesse condições. No Rio, 78% dos cariocas, por temerem a violência, pensam em se mudar do estado.

Contudo, os governos de Lula e Dilma mostraram que esse país pode dar certo. O Brasil virou centro das atenções mundiais, visto como um país que superava suas dificuldades e seguia um caminho de prosperidade .A autoestima das pessoas estava elevada, havia otimismo em relação ao presente e fé no futuro. O desânimo, portanto, é um péssimo conselheiro. Mas a mobilização popular e a luta são as condições essenciais para que tenhamos o nosso Brasil de volta.

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Wadih Damous – deputado federal e ex-presidente da OAB